segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre os olhares

Afinal em quantos meses se descobre que está apaixonado? Dias? Horas?
Não. Amei em um olhar.
O olho ás vezes tira fotos. Fotos transeuntes, que aparecem e reaparecem entre o anoitecer e o amanhecer. E quanto ao entardecer, fa-lo pensar em quantas fotografias pode-se tirar de uma única foto tão intensa e submersa em sonhos.
Foi assim: eu olhei você e te sonhei. Não chamo de amor à primeira vista, não acredito nisso. Mas acredito em sonho e realização.
Sonhei com a sua voz e com o seu jeito. E agora posso afirmar que você é muito mais do que eu sonhei e idealizei.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A lupa.


Podem falar o que quiserem sobre o amor. Ainda assim não serei ruim ou injusta e escreverei coisas difíceis sobre ele.
Apenas acho que ele é a lupa da vida, cuja função é aumentar as coisas belas e complicadas de serem vistas naturalmente para que se possa admirar ou analisar os detalhes.
Mas só faço uma observação: não vá tão longe com essa lupa para não perder a sua melhor visão.
Se a sua lupa tiver poder, que seja de fazer um mundo melhor.

Bárbara Leão

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eu e a certeza

Uma das coisas que mais admiro é a reticência da certeza. Aquele suspiro doce, que esfarela na boca, cai na blusa e pede água. A certeza é o objeto lançado à distância, o orgulho dando risada e a pessoa endireitando a postura.
Tenho sede de certeza e gosto de ser assim. Gosto de colher sinceridade, segurança e honestidade. O que é certo nem sempre vem antes, mas é o que mais importa, porque fica.
Não costumo contar quantas coisas não entendo. A sociedade inteira é incerta, isso leva à loucura ! Aprendi a contar somente o que é meu. Gosto de certeza, apenas para ser eterno.
Certeza para quem é livre na alma, transformado no pensamento e aberto para realidade.


Bárbara Leão

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Com amor.


Apenas entenda que amor não é um cérebro ligado à todos os membros do corpo com a intenção de mandar mensagens para eles a fim de que estes tenham a absoluta obrigação de atender ao chamado e aceitar. Eu estive pensando Alice... Você tem razão quando grita, bate a porta e chora. Talvez amor sejam todos os membros unidos, sem a menor pretenção de atender à algum telefonema. Simplesmente agem e acontece. Sim Alice, amor acontece!
Não Alice ! Não faça do amor uma pessoa e o veja antes de sentir. Não veja as roupas, o gel no cabelo e os olhos verdes. Isso seria informação demais para um coração frágil. E por falar em coração, filhinha querida, use-o mais que o cérebro, movimente-o mais que os membros do seu corpo e deixe-o falar mais que a sua própria língua.
Sinta a grama, sinta as estrelas, sinta a água, sinta a quantidade de cores que uma minúscula flor pode ter e sinta também tudo o que foi criado com o amor.

sábado, 24 de julho de 2010

Que bom .




Minha amiga tinha uma mania terrivel. Era na verdade, uma brincadeira, mas eu não achava nem um pingo de graça nela. Hoje, eu pensaria diferente. Eis que a mania irritante era: quando alguém reclamava de alguma coisa ela dizia " que bom que..."Assim: você reclamava, sei lá, de dor nas pernas. Entao ela dizia: " que bom que você tem pernas, tem gente que não tem ! " Se reclamasse do cabelo, ela dizia: " que bom que você tem cabelo, tem gente que não tem mais, sabia ?"Se reclamasse da sua casa e dos seus vizinhos: " que bom que você tem vizinhos, tem gente que não pode ter porque não tem nem casa!" E se reclamasse de dor de cabeça entao? "Que bom que você tem cabeça. Tem muitas pessoas morrendo sem cabeça, sabia ?" E por ai vai...
Imagina que agradável, você ir dormir na casa de uma pessoa que fala essas coisas o dia inteiro. Não, ela não era nenhuma pessoa positivista, e não, ela não tinha nenhum problema (eu acho). Era pura brincadeira. Digamos que... não é brincadeira que se faça ! Não absorva a idéia!
Mas, hoje, lembrando dela, eu lembrei também das coisas que eu faço, e que você tambem faz. Tenho certeza! A gente reclama do café que tá doce demais ou sem açúcar, a gente reclama do nosso colégio, mas todos sabemos que qualquer colégio é ruim, a gente vive reclamando que não tem nada na televisão, mas o controle é o nosso melhor amigo quando não temos o que fazer. Reclamamos do "Banda dejavú e Dj Portugal" do vizinho, do pão que veio ou grande demais ou pequeno demais (pô, vire padeiro para você ver se é facil !), do namorado ou amigo que marcou com você às oito e chegou às onze, do violão desafinado. Pedimos "pelo amor de Deus" para os " Robertoo, vem almoçar", " Julianaaa, vai arrumar seu quarto", "Caiooo, vai tomar banho e pára de ver filme " acabarem.
Ok, não vou ficar até amanhã falando do que a gente reclama. Mas é só pra lembrar que realmente tem gente que não tem casa, nem televisão, nem um vizinho que dança Calypso, Dejavú ou sei lá o que, nem um pão pequeno, muito menos grande, nem uma mãe para gritar " Bárbaraaaa, desliga o computador".
Acabei com vocês agora, né ? Se quiserem levem na brincadeira também.
Eu já estava começando a reclamar " que droga, eu não tenho nada melhor pra escrever?", mas eu lembrei que tem gente que não tem o que escrever e hoje , milagrosamente, eu tenho.



Vou mandar um e-mail para a minha amiga, agradecendo por ela ter sido tão irritante!




Por Bárbara Leão

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Criança é borboleta !

Nunca fui muito fã de crianças, mas elas sempre me chamaram a atenção. Hoje vejo meu sobrinho de quatro anos e me dou conta de que todos nós, independente de idade, raça, cor ou número do soutien precisamos ser borboletas.
Meu sobrinho, a criança, não é nem a lagarta. Vejo a borboleta nele. Aquela que já foi transformada, que acabou de sair do casulo e quer voar alto, muito alto e ver coisas muito maiores que ele para sentar com perna de indio e falar "ual".
A criança quer pegar o mundo com a mão. Não, não. O mundo é pouco. A criança quer ir além. A criança quer ser um astronauta. Crianças experimentam o mundo e aprendem com ele através do tato, do olfato, da visão e audição, às vezes até esquecem do paladar e criam o amor. O sexto sentido.
O Fhilipe ( é, o sobrinho), ama ficar descalço, sujo, rolando na grama, pegando tatu bola no chão (o último chamava-se "Bagubam"), se jogando de lugares altos achando que é o homem aranha (ainda acho que é uma borboleta), ama riscar as paredes do quarto, ama falar que ama o bolo "mimo da vovó". A criança ama a vida. Você briga com a criança, ela chora e não demora muito para vir te lembrar que já esqueceu de tudo e que depende de você para amar a vida denovo. Essa é a borboleta, completamente livre, leve e solta.
Então, a gente pára e vê os adultos insensíveis, casca seca de árvore que vamos nos tornando. Parece que alguém pegou a borboleta, guardou no bolso e ela secou. Parece que a borboleta parou de procurar flores e foi atrás de espinhos e se cortou toda. É assim com o tempo. Os espinhos influenciam mais que as flores e os machucados não duram cinco minutos porque você não depende mais de ninguém. Ou seja, a gente retrocede, vira a lagarta que se arrasteja e só vê o pior na frente dela, que tem que subir em uma árvore para ver as coisas de cima, que não está muito a fim de voar , muito menos de sentir.
Deve ser por isso que por muitas vezes a gente se sufoca, se sente num casulo, estreito e desconfortável, com uma só saída: o tempo. Quando o tempo vem, nos libertamos e voamos. Mas o voo dura pouco, não é? Você logo cai e vê que o ditado era certo " quanto maior a altura, maior a queda".
Adultos! O que é isso? Parem de procurar " Bagubans" em celulares, notebooks e extratos bancários. Deixem a pipoca da vida estourar de novo e rolem no chão procurando por tatus. No final de tudo mesmo, a gente vê que a vida é uma grande brincadeira de esconde-esconde, onde você tem que procurar algum segredo nos ouvidos de quem já escutou.

Por Bárbara Leão.

sábado, 17 de julho de 2010

união crescente.

Não vou esperar que você espere. É certo. Você cresceu mais, então vou pular o muro, sim, porque quem pula muros não são pessoas pequenas e eu quero ser grande como você. Vou pular o muro e sair para crescer. Quando estiver da sua altura eu volto. Só me prometa que não vai deixar as suas raízes tão grandes apodrecerem já que eu não vou estar aqui para regá-lo. Peça a Deus que lhe mande chuva e que você possa parar no tempo sem mim, me esperando e que só dê frutos quando eu estiver por perto, para colhermos juntos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

tempo.


Não consigo acreditar mais na beleza, James. A borboleta que eu coloquei no bolso ontem, hoje não está mais aqui. A Primavera que estava revestida de flores na semana passada, hoje está nua. O vestido preto de lantejoulas que você me deu no outro verão,não entra mais. Os meus cachos não são mais os mesmos, nem a cor de bronze que você tanto amava. Agora aquele cabelo que você gostava tanto de acariciar está prata. É... achei os fios brancos. Hoje, quando eu acordei e precisei pegar os óculos, fui entender porque de uns tempos para cá você não falou mais sobre meus olhos esmeralda. Eles andam escondidos, é verdade. E de uns tempos para lá você pegava na minha mão lisa, macia e sem manchas, de uns tempos para lá. Me desculpa, James, eu só queria continuar sendo a mesma de cinquenta anos atrás, assim como você, assim como o que eu sinto por você, assim como o tapete da porta "aqui tem gente feliz" sempre fez sentido para mim.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

sonho.


Eu estava precisando de um canto. Só para pousar a cabeça e ouvir alguma coisa agradável enquanto o mundo acabava. Precisava me esquecer um pouco e fazer um texto. Eu estava mesmo cansada ! Joguei o café para o lado, nem sei onde caiu, mas ouvi o barulho das chaves. Estiquei o braço e encontrei o confortável, uma música boa e a perdição. Virei e vi que era a perdição mesmo. Me perdi no seu colo. Era só eu, você e a música tão suave quanto o café derramado no carpete. Quando eu acordei eu vi que o meu mundo só tinha começado. Você não estava ali e eu não iria te procurar. Eu sabia que você viria.

egoísmo.

Você era para mim, sim só para mim, algo insubstituível. Meu, eu, pra mim. Era assim que eu gostava de você. E quando eu te dizia essas coisas tão egoístas de pensar tanto em mim, era tudo para você. Essa era a verdade. Gostava de chegar em casa, depois de ficar o dia todo fora e ganhar uma lambida bem no nariz e ver seu sorriso espanado pelo seu rabinho. Ah... como era macio o seu pelo e como era prazeroso para mim te dar carinho...
Lembro-me do dia em que você ficou me observando brincar naquele balanço em baixo do pé de manga. Eu balançava, balançava, e você fechava os olhinhos sentindo o vento eriçar o seu pêlo marrom escuro. Vendo por esse lado, você também era bem egoísta.
Comprava ossinhos para você, te dava banho, os restos da minha comida e te levava pra passear na rua de casa. Era a minha felicidade saber que também era a sua.
Mas sabe, um dia eu acordei, abri a janela e você não estava mais aqui. Só a sua bolinha de plástico vermelha me esperava. Não te chamo de ingrato. Deixou pra mim as lembranças de que você foi feliz. Te chamo de egoísta, foi sem mim e está sofrendo sem mim, em algum lugar que eu ainda não sei...